Apesar de pertencerem ao grupo de risco, pacientes oncológicos devem seguir tratamentos
Diante da pandemia relacionada ao coronavírus (COVID-19), que tem causado grande preocupação em função da rápida disseminação da infecção e da gravidade observada em alguns públicos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os governos intensificaram a recomendação para que a população permaneça em isolamento domiciliar. Em especial pessoas com idade avançada, doenças pré-existentes e de saúde fragilizada, grupos de risco ao coronavírus por terem mais acentuadas as complicações.
Pacientes oncológicos fazem parte deste grupo de risco por, frequentemente, terem uma diminuição da imunidade por conta da própria doença, por debilitação da recuperação pós-cirúrgica ou, ainda, pelo efeito imunossupressor de alguns tratamentos, como quimioterapia e radioterapia. Logo, com a recomendação para isolamento domiciliar, muitos podem considerar que o melhor é se recolher em casa e parar com seus tratamentos, evitando também o contato com outros pacientes nas dependências do hospital. Contudo, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica recomenda expressamente a não interrupção do tratamento dos pacientes com câncer.
A suspensão do tratamento sem a recomendação do médico pode significar uma grande chance de avanço do câncer e a perda da janela de tratamento, ou seja, do momento ideal para realização do tratamento, que dê uma possibilidade de se reverter o seu quadro, alerta o oncologista do Hospital Hemolabor, Uirá Resende. “Não adianta o paciente se precaver contra coronavírus e morrer de câncer. A interrupção do tratamento pode ter consequências sérias, como a evolução da doença. Quando o paciente resolver retomá-lo, a doença pode estar mais avançada e só lhe restar o tratamento paliativo”.
O especialista destaca que a evolução da doença varia de acordo com cada tipo de câncer e do estágio dele. “Os tipos de câncer mais agressivos e que matam mais são os de pulmão e de pâncreas, logo estes terão consequências piores no caso de uma interrupção do tratamento”, pontua, acrescentando que a suspensão temporária do tratamento oncológico deve ocorrer somente se o paciente apresentar sintomas de coronavírus ou de gripe, mas ainda assim com o consentimento/acompanhamento do seu médico.
Comorbidades e seus riscos
O oncologista ressalta que, com base nos dados dos atendimentos na China e Itália, os agravamentos dos pacientes com coronavírus estão mais ligados à idade, tendo pacientes acima de 60 anos casos mais graves, que evoluem progressivamente a cada faixa etária. Além da idade, a presença de comorbidades, também aumentam muito a mortalidade pela doença. “Os casos mais graves estão ligados a comorbidades relacionadas com o coração, como as doenças cardíacas, hipertensão arterial sistêmica e diabetes tipo 2. Além de pacientes com tumores que resultem em problemas respiratórios, como o câncer de pulmão. Isso tem a ver com o jeito que o vírus entra nas células”, explica Resende.
Prevenção
O oncologista ressalta que a principal recomendação neste momento são as medidas recomendadas pelos órgãos competentes, como o distanciamento social, evitar contatos desnecessários e aglomerações, manter cuidados básicos de higiene, manter uma rotina saudável em casa, como realizar alguma atividade física e também a sanidade mental. “Assim como tem sido falado, o uso de máscara deve ser somente por quem está doente, com sintomas de gripe. “Quem não tem sintomas, não deve usar máscara, já que não há comprovação que ela é eficaz. É uma falsa sensação de segurança. É importante também manter a calma e ter serenidade neste momento”, recomenda, destacando ainda que o Hospital oncológico Hemolabor tem tomado medidas pra proteção dos seus pacientes, com fluxos ambulatoriais rigorosos, e a separação de pacientes com sintoma respiratório.